Erico Vasconcelos [1] Diretor-Fundador da UniverSaúde
Parece loucura questionar isto a uma altura dessas no meio de uma epidemia que toma proporções assustadoras e cada vez maiores em nosso País cujo “isolamento social” tende a afastar e a impactar negativamente as pessoas.
Acabo de ler os registros da entrevista com o israelense Yuval Harari no Estadão de hoje e me pego pensando sobre isso que estamos vivendo. Estamos sendo naturalmente convidados a refletir seriamente sobre a vida que levamos e a que levaremos a partir de agora – uma vez que o “normal” que vivíamos deverá ser repensado em busca de um “novo normal”..
Harari aponta coisas interessantes:
1-“construção de uma rede de segurança mental” voltada para o cuidado com a manutenção da saúde das pessoas em situação de maior exposição como profissionais de saúde e outros que não se isolaram com a epidemia,
2-“mentalidade da vigilância” capaz de fazer com que cidadãos e organizações detectem ativa e precocemente eventuais males com potencial para ofender a vida e a convivência em sociedade,
3-“a capacidade de domar nossos próprios demônios interiores” a fim de governar sentimentos com potencial para afastar e magoar as pessoas com quem convivemos e assim prejudicar as relações sociais com repercussões negativas como o ódio, a ganância e a ignorância e, por fim,
4-“o poder da cooperação”, traduzido pela união explícita de esforços de pessoas que se alinham em seus objetivos e estabelecem relações de confiança e honestidade em busca de uma vida mais plena e significativa.
A leveza de suas palavras indica possíveis soluções para a recriação em situações supostamente óbvias mas não tão simples e fáceis de considerar. Assim como outros estudiosos e pensadores mais experientes observo que as oportunidades para o “novo normal” encontram-se no interior de cada um de nós e na nossa capacidade de articular e fazer valer tais desejos e vontades com as pessoas com quem convivemos em Sociedade.
Tem uma “pegada” do eu importante sim posta pra este momento. Mas como dar conta disto em meio as afetações relevantes que todos nós temos estado diante e experimentado? Harari enfatiza que o “silêncio e a introspecção que nos captura e paralisa não nos ajudará a sairmos melhores deste momento“.
O desafio está sim na capacidade de enxergar as oportunidades que este instante apresenta, o que inevitavelmente nos convida para um distinto encontro consigo, nossos propósitos, nosso repertório, nossas indignações e nossas ações para subversão dos cenários.
Quem é você hoje? Você é quem você é ou quem os outros querem que você seja? Você coadjuvante ou protagonista? Você “anestesiado” ou presente, altivo? Você “assistindo a banda cantar coisas de amor” ou construindo pontes para ligar as ilhas? Você afetado ou projetado para o novo tempo, o “novo normal”?
Mas como lidar com toda a insegurança que este momento nos presenteia? Como viver em paz em meio ao isolamento que não parece ter fim? Até quando vamos com isto? Como imaginar a vida assim tão diferente em relação a tudo o que acontecia antes? Como manejar o medo que a epidemia traz na medida em que afeta pessoas cada vez mais próximas? Até onde conseguirei suportar todas as expectativas de repercussão no trabalho, etc.?
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[1] Erico Vasconcelos é cirurgião-dentista, estomatologista, especialista em Terapia Comunitária, em liderança e desenvolvimento gerencial de organizações de saúde e com MBA em gestão de pessoas. É apaixonado pelos desafios da gestão dos serviços de saúde. Há 15 anos atua na gestão da Atenção Básica, do SUS, na Segurança e Qualidade e na Gestão Estratégica de Pessoas. Foi gestor de saúde de diversas organizações privadas e municípios. Recentemente atuou no governo federal elaborando políticas e desenvolvendo ações de apoio e educação. Desde 2005 atua na formação em serviço de gestores e profissionais de saúde pelo Brasil afora. Trabalhou como Tutor e Coordenador de Cursos na EaD da ENSP, UnASUS-UNIFESP e na UFF. Foi Professor de Saúde Coletiva da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) e em outros cursos de várias Universidades. Fundou a UniverSaúde em 2017, uma startup para a Saúde que ajuda gestores do SUS a fazerem mais e da melhor maneira possível com menos dinheiro, associando informação e inteligência por meio de tecnologias digitais. Já trabalhou em mais 30 organizações e hoje atua em diversos projetos potentes com organizações públicas e privadas.
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