Erico Vasconcelos [1] Diretor-Fundador da UniverSaúde
Há algum tempo me cobrava escrever sobre este vírus respiratório surgido mais recentemente e cá estou finalmente para alguns registros bem práticos e objetivos. Não vou falar mais do mesmo, insistindo em replicar orientações que já foram alardeadas pela grande imprensa falada e escrita. Minha proposta aqui será compartilhar um olhar sobre tudo isso que vimos assistindo pela ótica de quem permanece imerso no mundo da Saúde Coletiva brasileira e que enxerga tudo isso com uma certa dose de apreensão e de serenidade.
Apreensão eu diria pelo que acabei de ver nas mídias jornalísticas desta manhã de quinta-feira, 27/02/2020. Publiquei até no stories do Instagram da UniverSaúde, confiram lá em @universaude. As notícias dão conta que os estoques de máscaras nas Farmácias estão no fim a ponto das indústrias estarem dando falta das matérias-primas destas máscaras, imaginem (https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/02/26/coronavirus-fornecedores-de-mascaras-estao-sem-produto-para-os-proximos-60-dias.ghtml). Afinal, o que há por trás deste tamanho alarde sobre mais um vírus respiratório que surge? Por quê o enorme pânico criado? Juramos mesmo que as máscaras descartáveis, que acabaram nos estoques das Farmácias (https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/01/coronavirus-ja-provoca-corrida-as-farmacias-e-mascaras-somem-em-sp.shtml), evitarão a disseminação do Coronavírus no Brasil? A quem interessa o tom elevado deste “horror” ao Coronavírus?
Precisamos amenizar o discurso subsidiando-se em evidências científicas para encontrar a serenidade e a mansidão necessárias para o lidar com as medidas diante do espalhamento inevitável do vírus pelo País afora. Esta é a fala de todos neste instante ligados aos órgãos de Saúde municipais, estaduais e federais. Aliás, o Ministério da Saúde lançou uma página com informações sobre o Coronavírus que é atualizada constantemente, vale a pena conferir (https://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/coronavirus).
O que me intriga é que na nossa história recente já assistimos a chegada de outras gripes parecidas com esta com repercussões iguaizinhas as que assistimos atualmente com o Coronavírus. Três gripes em particular a saber. No início do século 21, também na China, vivemos pânico parecido com o surgimento da chamada “Síndrome Respiratória Aguda Grave”, conhecida como SARS da forma abreviada do inglês. Em meados de 2009, quem não se lembra do também confinamento das primeiras pessoas provenientes do México com sinais e sintomas de uma suposta nova gripe, alardeada como “extremamente mortal”, conhecida posteriormente como gripe A H1N1 (http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL1097172-5602,00-GRIPE+SUINA+MORTAL+ATINGE+O+MEXICO+E+PODE+SE+ESPALHAR.html). E mais recentemente, a partir de 2012, assistimos ainda o aparecimento da MERS, sigla para a Síndrome Respiratória do Oriente Médio, que surgiu inicialmente na Arábia Saudita e logo se espalhou também por uma série de países. Um registro interessante recente produzido pela UOL fez referência ao fato da China parecer o “berço” destas doenças que acabam por se espalhar pelo Planeta afora, vale a leitura (https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/01/31/sars-h1n1-e-coronavirus-por-que-a-china-e-berco-de-grandes-epidemias.htm).
Fato é que o pânico e o temor não ajudam agora e sequer se justificam se as medidas relacionadas às “práticas da boa educação” forem consideradas sistematicamente, como disse anteontem o médico infectologista e ex-Secretário Estadual da Saúde de São Paulo, David Uip. Sobretudo se resgatarmos na memória recente o que fizemos em Sociedade para sobreviver a estas gripes ditas acima. Há que se lembrar que o advento do álcool gel, hoje em pequenos potes e bastante comum em bolsas masculinas e femininas e também em praças de alimentação de Shoppings, surgiu deste período de doenças que enfrentamos diante do imperativo da incorporação coletiva de medidas de proteção e sobrevivência. Pode parecer até exagero, mas vejo sim que conquistamos um senso ético distinto do convívio em Sociedade quanto a prática desta higienização recorrente das mãos. Claro que o clamor pelo surgimento de mais uma doença gripal reacende a lembrança destas atitudes e neste sentido são bem-vindas. Afinal, se estamos também sobrevivendo até aqui é porque em certo ponto temos nos comportado de forma alinhada com o que estão exatamente nos sugerindo agora. As gripes que enfrentamos aqui e acolá em nosso dia-a-dia são muito parecidas com estas que surgiram e que assistimos agora com o Coronavírus.
Daí vem o termo “serenidade” que citei no início deste artigo como um movimento em favor da sobriedade e do conhecimento necessários para a prática das atitudes que se fazem importantes neste momento mais que nunca (e de novo e sempre!). Para que possamos investir com inteligência e precisão naquilo que realmente se faz indicado, é imperativa a lembrança cotidiana das instruções referentes a estas “boas práticas de educação”, revisando-as não exatamente devido ao temor pelo Coronavírus, mas sobretudo por aquelas viroses do dia-a-dia, supostamente inofensivas, que muitas vezes contraímos em função de uma mão mal asseada, de um espirro mal protegido ou mesmo de um descuido no tocar dos olhos e da boca e a consequente contaminação de um local que servirá de apoio e contato de outro alguém. Estes são os principais meios de disseminação destas gripes, produtos possivelmente de uma relativa desatenção diante das ações que não podemos nos descuidar. Aqui está o “pulo do gato” no enfrentamento do Coronavirus de fato..
Para mais informações sobre o Coronavírus e as medidas de proteção, acessem:
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[1] Erico Vasconcelos é cirurgião-dentista, estomatologista, especialista em Terapia Comunitária, em liderança e desenvolvimento gerencial de organizações de saúde e com MBA em gestão de pessoas. É apaixonado pelos desafios da gestão dos serviços de saúde. Há 15 anos atua na gestão da Atenção Básica, do SUS, na Segurança e Qualidade e na Gestão Estratégica de Pessoas. Foi gestor de saúde de diversas organizações privadas e municípios. Recentemente atuou no governo federal elaborando políticas e desenvolvendo ações de apoio e educação. Desde 2005 atua na formação em serviço de gestores e profissionais de saúde pelo Brasil afora. Trabalhou como Tutor e Coordenador de Cursos na EaD da ENSP, UnASUS-UNIFESP e na UFF. Foi Professor de Saúde Coletiva da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) e em outros cursos de várias Universidades. Fundou a UniverSaúde em 2017, uma startup de educação para a Saúde. Já trabalhou em mais 30 organizações e hoje atua em 6 projetos incríveis e potentes. Ama de todo coração Juliana, sua esposa, e seus filhos Letícia e Theo.
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