O quê os municípios devem fazer para captar mais dinheiro no novo modelo de cofinanciamento da Atenção Primária à Saúde do SUS?
- ericovasconcelos4
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Atualizado: há 3 dias
Erico Vasconcelos [A]

A Atenção Primária à Saúde (APS) é o primeiro contato do cidadão com o Sistema Único de Saúde (SUS) e o pilar central da estratégia de saúde pública no Brasil. Com a publicação da Portaria GM/MS nº 3.493, de abril de 2024, o Governo Federal instituiu uma nova política de financiamento federal da APS, encerrando o ciclo do programa Previne Brasil e estabelecendo um modelo mais robusto, territorializado e orientado à equidade.
O novo modelo representa um avanço importante na forma como os municípios recebem recursos financeiros: ele combina critérios estruturais, populacionais, qualitativos e estratégicos com o objetivo de promover maior justiça distributiva e induzir melhorias reais na qualidade dos serviços. Mas, afinal, o que os municípios precisam fazer para captar o máximo de recursos nesse novo cenário?
Um Novo Marco no Financiamento da APS no SUS
Diferentemente do Previne Brasil, que tinha foco central em cadastro e desempenho em indicadores, a nova política busca equilibrar diferentes dimensões da gestão da APS, reunidas em seis componentes de financiamento:
Equipes habilitadas e em funcionamento (componente fixo)
Vínculo e acompanhamento territorial
Qualidade dos serviços prestados
Ações estratégicas e programas específicos
Atenção à saúde bucal
Base populacional ajustada por vulnerabilidade (IED)
Esse modelo favorece municípios que conseguem garantir cobertura efetiva da população, qualidade na atenção prestada e engajamento em programas estruturantes do SUS.
O quê fazer para captar mais recursos financeiros?
1. Organizar Equipes de Saúde conforme os parâmetros da Política Nacional de APS
A base do financiamento começa com o número de equipes regulares de Saúde da Família (eSF), equipes de Atenção Primária (eAP) e equipes de Saúde Bucal (eSB) devidamente cadastradas e ativas.
Dica técnica: Verifique se todas as equipes estão registradas e atualizadas no CNES com carga horária, profissionais e área de abrangência corretamente definidos.
2. Aprimorar o cadastro e fortalecer o Vínculo Territorial
O segundo componente valoriza os municípios que mantêm sua população efetivamente vinculada às equipes de APS, com comprovação de acompanhamento regular.
Isso significa não apenas cadastrar, mas registrar atendimentos periódicos, visitas domiciliares, imunizações e ações coletivas de promoção à saúde.
Um cadastro meramente formal, sem interação registrada nos sistemas de informação, não garante recursos.
Recomenda-se: investir em capacitação dos ACS e equipes de recepção para qualificar os cadastros no e-SUS/PEC e garantir consistência nos dados transmitidos ao SISAB.
3. Antecipar-se à avaliação da qualidade da APS
Mesmo ainda em fase de implantação, o componente da qualidade irá considerar indicadores clínicos e operacionais que refletem a efetividade da APS, como:
Acompanhamento do pré-natal com início precoce.
Rastreamento de câncer de colo do útero.
Monitoramento de hipertensos e diabéticos.
Acompanhamento de puericultura até os 2 anos.
Municípios que estruturarem protocolos assistenciais, agendas compartilhadas e monitoramento interno sairão à frente na avaliação nacional da qualidade, impactando diretamente no valor repassado.
4. Ampliar e diversificar as Ações Estratégicas
A adesão a programas e ações estratégicas garante incentivos adicionais. Entre eles:
Equipes e-Multi (apoio matricial multiprofissional).
Consultórios na rua e estratégias para população em situação de vulnerabilidade.
Telessaúde e apoio à informatização das unidades.
Academias da Saúde, equipes de saúde prisional, e mais.
Quanto mais integrada for a gestão municipal a esses programas, maior será a diversificação das fontes de recurso.
5. Utilizar o Componente Populacional de forma Inteligente
O valor per capita varia conforme a vulnerabilidade da população e é ajustado com base no Índice de Equidade e Dimensionamento Municipal (IED), que considera:
Porte populacional.
Indicadores sociais e econômicos.
Cobertura territorial.
Municípios de pequeno porte e com maior vulnerabilidade tendem a receber valores proporcionais mais altos, desde que mantenham o cadastro e as ações efetivas de APS atualizados e comprovados.
Ferramentas como painéis do SISAB e relatórios do e-Gestor APS ajudam a identificar inconsistências que podem comprometer esse componente.
6. Gestão técnica e monitoramento contínuo
A captação de recursos hoje está diretamente relacionada à gestão baseada em evidências. O tempo da “burocracia passiva” acabou. Agora, é necessário:
Criar núcleos técnicos de monitoramento da APS dentro das secretarias municipais de saúde.
Implantar rotinas de análise mensal dos dados enviados.
Usar relatórios do SISAB, e-Gestor e CNES para identificar fragilidades e oportunidades.
A lógica do financiamento é retroalimentada pelos próprios dados enviados — o que não está nos sistemas, simplesmente não é pago.
Conclusão
O novo modelo de financiamento da APS representa uma oportunidade concreta para os municípios alinharem qualidade do cuidado, gestão eficiente e justiça na alocação de recursos. No entanto, exige mudança de mentalidade: é preciso migrar da lógica do preenchimento para a lógica da gestão por resultados e territorialidade real.
Municípios bem organizados, com dados qualificados, equipes completas e planejamento estratégico estruturado têm hoje maior poder de captação financeira, sem depender apenas do tamanho populacional. A APS deixou de ser apenas uma “porta de entrada” para se tornar a coluna vertebral do financiamento federal em saúde. E quem souber cuidar bem dessa coluna, sustentará com firmeza o sistema como um todo.
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[A] Erico Vasconcelos é cirurgião-dentista, estomatologista, especialista em Terapia Comunitária, em liderança e desenvolvimento gerencial de organizações de saúde e com MBA em gestão de pessoas. Há 19 anos atua na gestão da Atenção Básica, do SUS, na Segurança e Qualidade e na Gestão Estratégica de Pessoas de organizações de saúde. Foi gestor de diversas organizações privadas e municípios. Atuou no Ministério da Saúde entre 2013 e 2016 no Departamento de Atenção Básica elaborando políticas e desenvolvendo ações de apoio e educação. Desde 2005 atua na formação em serviço de gestores e profissionais de saúde pelo Brasil afora. Trabalhou como Tutor e Coordenador de Cursos na EaD da ENSP, UnASUS-UNIFESP e na UFF. Foi Professor de Saúde Coletiva da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) e em outros cursos de várias Universidades. Fundou a UniverSaúde em 2016, uma empresa que ajuda gestores a reduzirem custos e a captarem novos recursos com resultados rápidos, fortalecendo a governança e promovendo a sustentabilidade financeira e organizacional da Saúde. Atualmente desenvolve parceria com a empresa de tecnologia OM 30 de São Paulo-SP.
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