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Que lugares são estes onde gostaríamos finalmente de trabalhar?

Nesta última sexta-feira, 24/01/2020, estive com diretores de um hospital. Na conversa o importante relato do pedido de desligamento recente de dois profissionais distintos acompanhado de um certo sentimento de tristeza e incompreensão. “Por quê sair assim deste jeito como se estivessem simplesmente ignorando a história de vida que acumularam aqui por anos?”, um dos Diretores bradou. E a pergunta que não queria calar em mim lá dentro era: o que será que está havendo neste lugar?

Nas organizações de saúde evidências como os altos índices de turnover, indicador que ilustra a retenção dos profissionais por meio da alta rotatividade de pessoas contratadas e desligadas num curto espaço de tempo, tem sido uma constante. Afastamentos ocupacionais e as demissões causadas por doenças ligadas a saúde mental permanecem conferindo um tom distinto a este delicado cenário.

Em 2013, Oliveira e colaboradores [2] apresentaram os resultados de uma pesquisa em que 21% dos trabalhadores foram afastados por episódios depressivos, sendo que a causa que mais os afastou foi o transtorno bipolar afetivo (40,62 dias). Em 2015 [3], de acordo com os dados do Anuário do Sistema Público de Emprego e Renda do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), compilado a partir de informações do Ministério do Trabalho, foram contabilizados 181,6 mil casos de natureza diretamente relacionada ao ambiente profissional – o que representou uma alta de 25% comparado aos dez anos anteriores. Em 2019, a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT) [4] noticiou que o afastamento de trabalhadores por doença aumentou 6% em 2018 em comparação com 2017.

Este é um campo em aberto para o debate e avanços, a considerar a necessária mudança dos jeitos históricos de pensar, sentir e agir das pessoas que atuam nestas organizações. Precisamos de mais “Agentes de Mudança” que se pautem pelo inconformismo e por soluções simples, capazes de observar os traços culturais de forma investigativa, criando soluções de transformações tangíveis. Passou do momento da Saúde incorporar finalmente olhares, competências, cuidados e sobretudo criatividade para incorporar novos modos das pessoas se relacionarem e conviverem em suas organizações.

Mas que lugares são estes onde gostaríamos finalmente de trabalhar? Como podemos trazer à vida organizações que impulsionem muito mais do potencial humano? Ousamos indicar abaixo uma potente lista de ações que concorrem para a recriação das organizações em meio a superação das circunstâncias que persistem em afetar as pessoas que atuam na Saúde. Em tópicos e necessariamente nesta ordem nossos olhares consideram os seis pontos abaixo:

1-Liderança: é o passo 1 e ponto final. Deve se caracterizar pela servidão ativa e respeitosa, pela ação inspiradora, com forte apelo ético e moral e, sobretudo pelo senso de exemplo aos demais Colegas de equipe,

2-Cultura organizacional: deve considerar a lucidez de suas lideranças com a exposição objetiva de suas intenções por meio da visão e da missão. Deve ainda conclamar seus trabalhadores para participarem desta apropriação e, principalmente, da construção dos valores que pautarão a convivência harmoniosa e potente no lugar onde “gastam suas vidas”,

3-Comunicação aberta e não violenta: Rubem Alves, nobre educador brasileiro, dizia que a nossa Sociedade precisava de menos “oratória” e mais “escutatória”. A base do sucesso das organizações passa pelo diálogo mais franco e aberto e menos vaidoso e egóico. A escuta atenta e sincera em um mundo tão tecnológico e barulhento oportuniza momentos incríveis,

4-Pertencimento: se “a vida boa só pode ser no lugar onde passo a maior parte do meu dia”, o lugar onde trabalho precisa ser a extensão da minha casa. Um lugar que me desafia e que me faz acreditar que posso contribuir com que eu sei para uma Sociedade melhor. Precisamos conquistar mais “Promotores de Mudança” nas organizações para sustentar a mudança que ousamos propor,

5-Apoio e educação constantes: conferem sustentabilidade para as ações organizacionais e dão o tom para a convivência em um lugar onde todos sentem que fazem a diferença ao ensinar-aprendendo e aprender-ensinando todos os dias. São atitudes que guardam relação de consideração e respeito com os trabalhadores. Reúne potência para servir como “salário indireto” para as pessoas, entusiasmando-os e impulsionando-os,

6-Orgulho de fazer parte: a excelência é produto de uma conquista de todos que atuam na organização e deve também ser produto de um desejo incessante daqueles que trabalham em organizações de saúde. Devolutivas dos resultados por meio do monitoramento e avaliação das ações de forma regular e frequente dão conhecimento do cenário às pessoas, abrindo espaço para a manutenção, correção ou melhoria dos trabalhos. Este engajamento distingue as pessoas e suas organizações servindo como referência para a produção de cuidados.

Sabemos ao mesmo tempo que nada disso é tarefa fácil. Por isso a UniverSaúde encontra-se atualmente engajada para dar sua contribuição às organizações de Saúde neste momento importante. Com nossos acúmulos de experiências e conhecimentos em posições de gestão e na ponta dos serviços enxergamo-nos potentes por meio de nossa Equipe de Mentores Associados para apoiar mudanças e à transformação. Destinamos foco neste instante ao cuidado com as Santas Casas de Misericórdia de todo o País inovando em ações presenciais e online para o desenvolvimento de suas relações intra-institucionais, acompanhada de maior eficiência financeira, melhor ambiente organizacional e maior satisfação dos usuários.

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________________

[1] Erico Vasconcelos é cirurgião-dentista, estomatologista, especialista em Terapia Comunitária, em liderança e desenvolvimento gerencial de organizações de saúde e com MBA em gestão de pessoas. É apaixonado pelos desafios da gestão dos serviços de saúde. Há 15 anos atua na gestão da Atenção Básica, do SUS e na Segurança e Qualidade. Foi gestor de saúde de diversas organizações privadas e municípios. Recentemente atuou no governo federal elaborando políticas e desenvolvendo ações de apoio e educação. Desde 2005 atua na formação em serviço de gestores e profissionais de saúde pelo Brasil afora. Trabalhou como Tutor e Coordenador de Cursos na EaD da ENSP, UnASUS-UNIFESP e na UFF. Foi Professor de Saúde Coletiva da Universidade de Mogi das Cruzes e em outros cursos de várias Universidades. Fundou a UniverSaúde em 2017, uma startup de educação para a Saúde. Já trabalhou em mais 32 organizações e hoje atua em 6 projetos incríveis e potentes. Ama de todo coração Juliana, sua esposa, e seus filhos Letícia e Theo.

[2] OLIVEIRA, RD et al. Afastamento do trabalho em profissionais de enfermagem por etiologias psicológicas. Revista Brasileira em Promoção da Saúde, v.26, n.4 (2013). Disponível em: https://periodicos.unifor.br/RBPS/article/view/2337. Acesso em: 22/01/2020.

[3] Afastamento de profissionais por doenças do trabalho cresce 25% no Brasil. Revista Cobertura. https://www.anamt.org.br/portal/2019/02/12/afastamentos-de-trabalhadores-por-doenca-aumentam-6-em-2018/. Acesso em: 22/01/2020.

[4] Afastamentos de trabalhadores por doença aumentam 6% em 2018. Associação Nacional de Medicina do Trabalho. Disponível em: http://www.revistacobertura.com.br/2018/01/10/afastamento-de-profissionais-por-doencas-do-trabalho-cresce-25-no-brasil/. Acesso em: 22/01/2020.

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