Carolina Fanaro da Costa Damato [1] Mentora Associada da UniverSaúde
“O hospital do futuro é onde superaremos limitações e recuperaremos nossa saúde para seguirmos novas jornadas, e também onde passaremos nossos últimos momentos na terra. Aqui no Conahp discutiremos que futuro queremos criar para nosso país e nossas instituições”, Francisco Balestrim, Presidente do Conselho de Administração da Anahp, na abertura oficial do 5o Congresso Brasileiro de Hospitais Privados. Considerando esta declaração, pensar no futuro que queremos requer pensar no paciente, como um dos pilares fundamentais para o chamado Hospital do Futuro, que será tratado nesse artigo como Serviço de Saúde do Futuro. A Constituição Brasileira de 1988, o Código de Defesa do Consumidor, o Ministério Público e o SUS criaram condições para que os cidadãos tivessem mais poder real na sociedade e passassem a exibir um perfil de luta pela garantia de seus direitos. Há uma crescente e dinâmica mudança na demanda pelos serviços, em função de novas configurações demográficas e epidemiológicas. Há também o avanço da ciência e tecnologia, trazendo consigo a necessidade de mudança no escopo do trabalho em saúde. Com isso, no cenário atual, temos pacientes mais informados e menos passivos, que exigem dignidade, compaixão e respeito; cuidado coordenado; cuidado personalizado; considerando aquilo que é importante para o paciente, aqui que ele entende ser fundamental em seu cuidado. Para oferecer essa experiência de cuidado ao paciente é necessário lançar mão de metodologias que visem compreender as necessidades das pessoas. Exemplo disso é o Planetree, uma certificação norte-americana, já alcançada por alguns hospitais no Brasil. Esse é um processo que demanda das equipes dos hospitais a reorganização dos cuidados considerando quatro requisitos: liberação do horário de visita; ações de incentivo para o acesso do paciente ao prontuário, implantação de conselhos de pacientes; e 85% dos colaboradores treinados conforme os conceitos da certificação. Outra metodologia que complementa a anterior e também já está sendo utilizada no Brasil, num hospital do Distrito Federal veio do Butão e é denominada Felicidade Interna Bruta [FIB] que consiste em analisar o que é a felicidade interna e por meio dessa análise, levantar quais as necessidades das pessoas e o que precisava ser desenvolvido para atendê-las.
Há também uma vertente que, baseada nos conceitos de Walt Disney, buscam desenvolver uma experiência encantadora para o paciente. Nesses conceitos, estão incluídas reflexões sobre atenção aos detalhes que podem superar as expectativas e também o encantamento do próprio funcionário, subsidiando-os com conhecimento da história da marca, dos valores e princípios de modo que a essência do negócio seja fortemente internalizada e ele se torne um fã da empresa em que trabalha. Isso significa dizer que, como na Disney, o valor agregado está no encantamento de quem cuida e de quem é cuidado. (Associação Nacional de Hospitais Privados, 2017). Além disso, pensando em qualidade e segurança do paciente, temos as metodologias de acreditação, que geram confiabilidade e credibilidade ao serviço prestado, podendo gerar maior satisfação do paciente em sua experiência de cuidado. Esses podem ser considerados facilitadores para consolidação desse pilar na lógica dos Serviços de Saúde do Futuro. Entretanto, há que se pensar na superação de limitações, citada por Balestrim na abertura do 5o Congresso Brasileiro de Hospitais Privados. O pilar relacionado à experiência do paciente já é presente, ainda que de forma tímida. Alguns enfrentamentos serão necessários para combater essa timidez e ampliar essa prática. Novos modelos de fazer gestão, mais modernos e contemporâneos, que compreendam que o hospital necessita de trabalhadores formados adequadamente para a gestão e não apenas para a assistência. Qualificação da gestão e olhar para as inovações do gerenciamento em saúde mostra-se um dos desafios nesse enfrentamento. Gerir um serviço de saúde, especialmente um hospital, implica em gerir uma organização complexa, que ocupa lugar crítico na prestação de serviços de saúde. Implica compreender que é uma organização atravessada por múltiplos interesses, onde são construídas identidades profissionais, com grande reconhecimento social. Implica também em reconhecer que a assistência à saúde e produção de cuidado envolvem sempre o encontro entre profissionais e pacientes, com utilização de diferentes tipos de tecnologias, dentre elas a tecnologia leve, ainda pouco valorizadas no cuidado hospitalar, tais como escuta, vínculo, responsabilização, singularização das ações. Discutir sobre a complexidade dos diversos serviços de saúde frente às mudanças da sociedade carrega a responsabilidade de criar novos espaços para qualificação desse debate e para a construção de novas tecnologias e estratégias de gestão, considerando os pilares considerados fundamentais para o chamado Hospital do Futuro, ampliado aqui para serviços de saúde do Futuro.
A necessidade de ampliar o conceito para Serviços de Saúde do Futuro fundamenta-se na reflexão acerca do estudo realizado por Pazin-Filho et al, 2015, sobre o impacto de leitos de longa permanência no desempenho de hospital terciário em emergências referência para uma determinada regional de saúde no interior de São Paulo, destaca a dificuldade encontrada em convencer pacientes e familiares dos benefícios da transferência para o próprio paciente. No estudo estão relatados casos que não foram transferidos em virtude da negativa dos familiares, com receio de que a retirada do paciente da instituição terciária prejudicasse o seu tratamento. A estratégia utilizada no convencimento aos familiares foi a aproximação deles com os serviços, com as equipes e a pactuação de garantia de retorno direto ao hospital terciário se fosse necessário, sem intervenção da Regulação. Além disso, auxílio-transporte para visita aos pacientes também foi uma conquista do grupo.
Embora todos os esforços tenham sido empregados, alguns familiares ainda resistiram à transferência e isso foi respeitado. No entanto, foram convidados a pensar em estratégias alternativas de cuidado, em outros espaços de saúde, incluindo o próprio domicílio. Outro ponto destacado pelos pesquisadores refere-se ao despertar da equipe multidisciplinar a necessidade diária de gestão dos casos e planejamento. Com isso, a gestão planejada e qualificada proporcionou melhor gestão da clínica, visando diminuir o tempo de permanência na unidade terciária e ampliar o uso de recursos disponíveis nos municípios de origem dos pacientes possibilitando maior resolutividade e alta segura. Excelente exemplo de gestão, com foco em eficácia, considerando o paciente como pilar fundamental e o trabalho com a rede de atenção à saúde como grande referencial na gestão do cuidado. Observa-se um momento de identificação de lacunas e tentativas de elaboração de estratégias para preenchê-las. Pode-se dizer que essa questão está em processo de redefinição, tendo em vista a busca por qualidade, integralidade, eficiência e controle de custos nos sistemas de saúde, com todos os dilemas e tensões em cada um desses campos, reconhecendo a complexidade da organização hospitalar, o lugar crítico que ocupa na prestação de serviços e sua herança (ainda praticada) do modelo médico-hegemônico no âmbito das práticas e da formação em saúde. Considerar e incluir o paciente nessa relação de forma ampla e efetiva, demanda dos gestores a modernização da gestão, com necessidade de qualificação dos profissionais e atualização dos conceitos e premissas que norteiam o seu fazer diário. Talvez o reconhecimento desse aspecto, por si só, caracterize uma grande inovação na gestão. Seja no presente o gestor em saúde do futuro. Conte com a UniverSaúde para ser parte da solução e mudar o jeito de fazer saúde no Brasil.
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[1] Carolina FC Damato é fonoaudióloga pela PUC-SP, mestre em Saúde Materno Infantil pela UNISA, com MBA em Gestão em Saúde pela FIERP USP, membro do Time de Lideranças da UniverSaúde, membro do Departamento de Saúde Coletiva da SBFa gestão de 2017- 2020 ocupando cargo de vice- coordenadora do Comitê de Políticas Públicas em Saúde, com experiência na gestão de serviços de Saúde, com atuação na gerência de unidades de saúde da Atenção Básica nas diferentes modalidades de atenção e também de serviços de atenção especializada, incluindo Hospital Dia.
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