Temos que cuidar da ‘saúde’ de quem gere o setor no país
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Temos que cuidar da ‘saúde’ de quem gere o setor no país

Erico Vasconcelos [A]

Quando o assunto é saúde, não há nada mais importante e necessário atualmente em nosso país do que o debate sobre a eficiência das gestões das organizações públicas e privadas do setor. Pode parecer um assunto que só cabe às instituições, mas tudo o que é feito nos bastidores, ou operacional, reflete diretamente na qualidade de atendimento aos usuários. E os números impressionam. Segundo estudo do Banco Mundial em 2017, quase R$ 22 bilhões são desperdiçados anualmente pelo SUS (Sistema Único de Saúde). A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), também em 2017, analisou os gastos em saúde de diversos países e mostrou que a má gestão administrativa é responsável pela metade do dinheiro desperdiçado.


Há uma série de aspectos que desafiam nossos pares em busca da sustentabilidade organizacional e financeira. No âmbito macro, ninguém discute o problema do desfinanciamento do SUS e o quanto isto impacta as Secretarias Municipais de Saúde, por exemplo. Aspectos sociais e econômicos também pressionam o SUS, tais como o envelhecimento agudo da população brasileira e a redução de brasileiros com planos de saúde em função da perda de renda devido a pandemia de COVID-19.


Mas é no âmbito do cotidiano das organizações onde residem alguns dos principais desafios para o combate à ineficiência na Saúde em nosso País. Questões estruturais, entre elas a pouca preparação dos gestores e profissionais do setor para a atuação em cargos de alta liderança, até o gerenciamento cotidiano das práticas administrativas e assistenciais explicam boa parte dos problemas que temos por diante. Há uma rotina bastante comum nestas organizações marcada pela ausência de um fio condutor para o desenvolvimento da agenda gestora – muitas vezes causada pela chamada síndrome do bombeiro pautada pela correria e estresse dos gestores devido às circunstâncias pontuais e urgentes que marcam o seu cotidiano.


A falta de um método para esta ação gestora do dia a dia, que inclui o monitoramento das ações e avaliação frequente dos resultados, impõem às organizações um cenário de ‘escuridão gestora’ onde todos trabalham e muito, porém sem dados para subsidiar se a caminhada tem conduzido a organização para o lugar que gostariam de alcançar – o que inevitavelmente as condena ao desperdício.


Há de se cuidar dos gestores das organizações de saúde para que estes entreguem os melhores resultados com os recursos que possuem, criando ambientes que oportunizem o exercício da motivação e do engajamento de seus colaboradores e que, consequentemente, entreguem valor distinto às pessoas – produzindo cuidado e bons desfechos. Afinal, é como traçar um paralelo com o que ouvimos no avião: em caso de despressurização, coloque sua máscara primeiro antes de ajudar quem está ao seu lado. Um ambiente saudável, financeiramente e operacionalmente, não tem como atender mal o seu cliente mais importante, que é o paciente. Saúde gera saúde.

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[A] Erico Vasconcelos é cirurgião-dentista, estomatologista, especialista em Terapia Comunitária, em liderança e desenvolvimento gerencial de organizações de saúde e com MBA em gestão de pessoas. Há 17 anos atua na gestão da Atenção Básica, do SUS, na Segurança e Qualidade e na Gestão Estratégica de Pessoas de organizações de saúde. Foi gestor de diversas organizações privadas e municípios. Atuou no Ministério da Saúde entre 2013 e 2016 no Departamento de Atenção Básica elaborando políticas e desenvolvendo ações de apoio e educação. Desde 2005 atua na formação em serviço de gestores e profissionais de saúde pelo Brasil afora. Trabalhou como Tutor e Coordenador de Cursos na EaD da ENSP, UnASUS-UNIFESP e na UFF. Foi Professor de Saúde Coletiva da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) e em outros cursos de várias Universidades. Fundou a UniverSaúde em 2016, uma A UniverSaúde é um empresa que prepara gestores e profissionais de saúde para evitarem desperdícios e melhorarem a eficiência das organizações. Já trabalhou em mais de 50 municípios e organizações. Atualmente desenvolve projetos com o Hospital Albert Einstein, o HCor, dentre outros diversos municípios pelo Brasil afora.





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